Parques, pra quê te quero?

Por Letícia Maria Klein Lobe •
08 agosto 2013
Talvez você já tenha visitado o Corcovado e o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, ou as Cataratas do Iguaçu, no Paraná. Se não foi, com toda certeza do mundo já ouviu falar. Sabe o que eles têm em comum? Ficam dentro de parques nacionais. Então se você já tirou foto na frente do Cristo ou ficou encharcado enquanto olhava as cataratas, você esteve nos dois parques brasileiros que mais recebem turistas todo ano. Em 2012, o Parque Nacional da Tijuca, no estado fluminense, foi visitado por mais de 2,5 milhões de pessoas e o Parque Nacional do Iguaçu recebeu 1,5 milhão de turistas. No mesmo ano, cerca de 9,7 milhões de pessoas foram dar uma volta no Great Smoky Mountain, o maior parque nacional dos Estados Unidos. É mais do que o dobro da soma dos dois parques brasileiros mais visitados. O que isso nos mostra? Que o Brasil tem muito a ganhar com os seus 68 parques nacionais. Tanto em dinheiro – as contas passam de um bilhão e meio em 2016 – quanto, e principalmente, em preservação de tão rica biodiversidade e conscientização ambiental.

Os dados acima estão na reportagem de capa da revista Planeta de julho deste ano. Ela faz um apelo às autoridades para abrirem todos os parques – dos 68 apenas 26 estão abertos à visitação – e dar a devida atenção que eles merecem. O turismo sustentável também foi destaque do 3º Conatus – Congresso de Natureza, Turismo e Sustentabilidade, realizado em julho na cidade de Bonito, no Mato Grosso do Sul. O tema está à tona e vem tarde. Frente à necessidade que temos de mudar de hábitos, viver uma vida sustentável e repensar nossos padrões de produção e consumo, o Brasil, com sua mega biodiversidade e paisagens de encher os olhos, está perdendo muito ao ignorar o potencial dos parques nacionais: fonte de renda, de empregos, de pesquisas e, especialmente, de educação ambiental e preservação de espécies, os dois objetivos primários dos parques nacionais.


Parque da Tijuca, criado em 6 de julho de 1961. Foto: ICMBio

Eu já falei aqui no blog sobre um parna (abreviação de parque nacional), o da Serra do Itajaí, com seus mais de 57 mil hectares espalhados por nove cidades de Santa Catarina, inclusive Blumenau (e eu ainda não fui visitar – que vergoooonha!!). Os parques nacionais são um tipo de unidade de conservação, na verdade, a mais antiga e também mais popular. O site do ICMBio diz que, pela lei brasileira, um parque nacional serve para preservar ecossistemas de importância ecológica e lindas paisagens, além de permitir pesquisas científicas, atividades educacionais e de interpretação ambiental, recreação e turismo ecológico. O ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade é quem gerencia os parques. O instituto foi criado em 2007 e faz parte do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Ao todo no Brasil são 321 unidades de conservação, todas geridas pelo ICMBio. Elas estão divididas em dois grandes grupos, de Proteção Integral e de Uso Sustentável, somando 12 categorias. Parque Nacional é uma das categorias do grupo de Proteção Integral.

Tudo parece muito bonito, mas a realidade é bem diferente. Sabe o que o Parna da Serra do Itajaí tem em comum com a maioria absoluta dos outros parques? Aí vai a lista: falta de funcionários, falta de infraestrutura (como estradas de acesso, sinalização, segurança, banheiros), falta de investimento, falta de interesse e de comprometimento do poder público. Quando o governo federal precisa economizar, adivinha quem sofre o primeiro corte? O MMA e, por consequência, o ICMBio. A matéria da revista Planeta mostra alguns números: dos R$ 4,1 bilhões previstos para o ministério em 2012, apenas R$ 1,1 bilhão foi repassado. A parcela do orçamento da União que vai para o ministério é menos de 1%. Para ser exata, 0,15%. Em valores para o ICMBio, são R$ 503 milhões por ano. Para pagar funcionários, que são cerca de 5.600, e cumprir com as atribuições das 312 unidades de conservação. É ridículo de pouco e mostra como o meio ambiente é menosprezado pelo poder público.

Parque Nacional do Iguaçu, criado em 10 de janeiro de 1939. 
Foto: ICMBio

É claro que o dinheiro que os parques ganham com o turismo ajuda, mas nem com isso o governo colabora. A reportagem mostra que dos R$ 17 milhões que o Parque Nacional do Iguaçu arrecadou em 2012, só R$ 3 milhões ficaram no parque para pagar as despesas. O restante foi para Brasília. A falta de verba gera outros problemas. Um deles é a quantidade de funcionários. A maioria dos parques precisa se virar com menos de 10 ou 20 pessoas. O Parna da Serra do Itajaí, por exemplo, tem seis. O maior parque brasileiro, o das Montanhas do Tumucumaque, no Amapá, tem quatro. São mais de três milhões e oitocentos mil hectares sob a responsabilidade de quatro pessoas! Tem as exceções, como sempre. O Parque da Tijuca tem mais de 150 funcionários e o do Iguaçu tem 800 (oitocentos, mesmo). Olha a diferença, galera!! É o parque com maior pessoal e ainda assim o gestor da unidade reconhece que não é o suficiente.

Isto porque a falta de pessoal (ou gente suficiente) abre portas para outros problemas que afetam muitas dessas unidades de conservação: caça, pesca, construções irregulares e extração ilegal de alimentos. Os parques da Serra do Itajaí e do Iguaçu, por exemplo, sofrem com o contrabando de palmito juçara. A caça e o comércio de fauna silvestre são uma das piores ameaças, mesmo fora dos parques nacionais. Neste último domingo, um casal de ambientalistas foi agredido em sua propriedade particular por um caçador, em Atalanta, Santa Catarina. Imagina o pavor da pessoa ao sair de casa pra fotografar a paisagem e dar de cara com uma arma apontada pra ela?!

E se falta verba pra manter os parques abertos e pagar as despesas, como indenizar e desapropriar as propriedades privadas que ficam dentro dos parques? Este é outro grande impasse, que tem relação com a caça e pesca ilegais. Muitos caçadores moram dentro ou nos arredores do parque (leia mais sobre isso no post sobre o PNSI). O que leva à outra questão: educação e conscientização ambiental. A segunda prioridade dos parques nacionais, depois da preservação. Está tudo interligado, relacionado, e enquanto o governo não estabelecer o meio ambiente como uma prioridade, os problemas vão continuar. Como o dinheiro está sempre na mira dos políticos, é de estranhar que eles ainda não tenham reconhecido o valor do turismo sustentável. Como disse um professor meu certa vez: uma floresta morta dá dinheiro uma vez, uma floresta viva dá dinheiro sempre. É o que mostra a reportagem da revista Planeta: um estudo da ONU revela que o Brasil poderia gerar até R$ 1,6 bilhão em receita com os parques nacionais em 2016, quando as Olimpíadas chegam às terras tupiniquins.


Parque Nacional do Itatiaia (RJ), o mais antigo do Brasil, 
criado em 14 de junho de 1937. Foto: ICMBio

Quem disse que sustentabilidade e economia caminham em direções opostas? É claro que não dá pra sair abrindo tudo que é parque a torto e a direito. Também não é pra abrir o parque inteiro à visitação. Sempre tem uma parte onde nenhuma pessoa pode entrar, pois o objetivo é a preservação ambiental integral. No Parna da Serra do Itajaí, por exemplo, cerca 2,5% estão na Zona Intangível; a maior parte, cerca de 70%, está na Zona Primitiva, que permite atividades de pesquisa e educação ambiental restritas às caminhadas em trilhas. É importante lembrar que a função dos parques não é dar dinheiro, é preservar hábitats e espécies e educar a população para a importância da conservação. A responsabilidade de abrir um parque é muito grande e é preciso muita coisa pra abrir um e mantê-lo funcionando adequadamente (e aqui a gente volta lá para os problemas): funcionários suficientes, infraestrutura adequada e um plano de manejo da unidade (que dita as ações necessárias para uma gestão sustentável do parque).

Para cumprir sua missão de proteger a natureza, o parque precisa impor limites aos visitantes, ter uma infraestrutura que suporte a presença de milhares de turistas por ano, causando o mínimo impacto possível na natureza, e ter uma educação ambiental forte. Despertar os turistas para a necessidade da sustentabilidade e da conservação é fundamental. Alertá-los para não tirar nada do parque e não deixar nada lá, principalmente lixo. A única coisa que deve sair do parque junto com o turista é a lembrança. Por isso a conscientização ambiental é tão importante. Todos nós que visitamos parques ou vamos visitar um dia precisamos entender que estamos ali para aprender e reconhecer a grandeza da natureza, entender que o ser humano não é soberano na Terra, é apenas mais uma espécie que precisa conviver em harmonia com as outras.

Eu sou a favor da abertura dos parques, mas eles precisam de rigorosidade e excelência em infraestrutura para que não acabem causando efeitos contrários ao que pretendem. E você, concorda? Já visitou algum parque nacional? Deixe sua opinião nos comentários. Se quiser saber mais sobre os parques nacionais, confira uma matéria do programa Cidades e Soluções sobre o assunto (parte 1 e parte 2), que apresenta os dois parnas brasileiros mais visitados. Tem outros links bacanas aqui embaixo sobre turismo sustentável e unidades de conservação, se você se interessou e quer aprofundar seus conhecimentos. Obrigada pela companhia e até breve!

Parques nacionais vistos do espaço: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul, Sudeste.

2 comentários:

  1. Oie Leti! Muito bom o teu post sobre a importância dos parques!!
    Além dos parques aqui da nossa região, existem também várias áreas de preservação que merecem ser visitadas e conhecidas...
    Outro dia passando por Ibirana descobri a Flona, linda por sinal:
    http://www4.icmbio.gov.br/flonaibirama/

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    1. Oi Martinha!
      Com certeza, são várias as unidades de conservação que podemos visitar. E vale muito a pena, pois é uma ótima forma de educação e conscientização ambiental, claro que sempre respeitando o ambiente. Quero começar a visitar as unidades da região!
      Muito obrigada por comentar!
      Beijos.

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