Diário do Clima, de Sônia Bridi [Resenha]

Por Letícia Maria Klein •
29 junho 2013

Impresso em papel reciclado, o livro “Diário do Clima – Efeitos do aquecimento global: um relato em cinco continentes” mostra os bastidores da série “Terra, que tempo é esse?”, produzida pela repórter Sônia Bridi e o cinegrafista Paulo Zero para o programa Fantástico em 2010. Durante seis meses, o casal viajou para 12 países ao redor do planeta em busca de explicações e soluções para o aquecimento global. Austrália, Bolívia, Butão, China, Estados Unidos, Groelândia, Inglaterra, Islândia, Itália, Peru, Tanzânia e Vanuatu foram os países escolhidos para mostrar às pessoas as consequências graves do processo de aquecimento global e a urgência em reverter esse quadro antes que seja tarde demais. 


Como o nome do livro diz, é um diário, então você lê os relatos de viagens com se elas tivessem sido realizadas ontem. Uma ótima forma de imersão na narrativa! Gostei! Sônia relata com detalhes os dias passados em cada um dos países, trazendo aspectos culturais, históricos e econômicos em meio a informações sobre o aquecimento global, tudo relacionado. A narrativa é simples, divertida e objetiva, repleta de curiosidades e informações interessantes (alarmantes e chocantes também). Além de muitas fotografias das viagens. 

O livro traz até mais informações sobre os povos e os países do que sobre os efeitos da mudança climática, mas é justamente isso que torna a leitura tão rica e gostosa de acompanhar: através da costura entre temas, aspectos e realidades é que percebemos como tudo está interligado e que o que acontece de um lado do mundo afeta o outro lado, inevitavelmente. E tudo que conhecemos sobre aquecimento global hoje começou pelas mãos dos homens, mais especificamente na Revolução Industrial. Nós hoje sofremos as consequências daquela época, o que significa que as atividades humanas que provocam o aquecimento global hoje serão sentidas lá na frente, por nossos netos e bisnetos. 

De épocas de secas na Austrália e na Amazônia, derretimento de geleiras na Groelândia, Peru e no Kilimanjaro, aumento do nível dos oceanos em cidades como Veneza (e todos os litorais) ao branqueamento de corais no arquipélago Vanuatu, Austrália e Brasil, Sônia consegue mostrar com todos esses acontecimentos são afetados pelo aumento da temperatura média da Terra, como estão relacionados e também como acabam se afetando mutuamente. 

Dois exemplos para esclarecer: o aquecimento da atmosfera derrete as geleiras mais rapidamente do que seria o normal. Como a água do mar sob e ao redor das geleiras absorve calor, ao contrário do gelo branco, que reflete calor, a água também fica mais quente e acelera o processo de derretimento do gelo, pois o esquenta por baixo ao mesmo tempo em que o ar quente vai derretendo a geleira por cima. É o mesmo caso no Monte Kilimanjaro, apelidado carinhosamente de Kili por Sônia. O ar a 6 mil metros de altitude está mais quente e derrete o gelo do topo do Kili. Assim como a água do mar, a rocha também absorve calor e colabora para o processo de derretimento de gelo no alto do monte. 

E para os que dizem que o aquecimento global é sinal de que um país é bem desenvolvido, o livro deixa bem claro como o aquecimento global pode sim afetar a economia de alguns povos, como é o caso dos agricultores na Austrália, os cultivadores de ostras na China e o turismo e o acesso à água potável em Vanuatu. Quem muito vai sofrer também com o aquecimento global são os países pobres. Quem tem dinheiro e tecnologia dá um jeito, mas quem não tem? 

"A adaptação é simples para os ricos, os que mais contribuíram para o aquecimento do planeta, com a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Foi emitindo que se industrializaram, se desenvolveram e enriqueceram e agora podem contornar as consequências. Uma tarefa beirando o impossível para os pobres. As mudanças climáticas punem preferencialmente os inocentes". (Sônia)

Sônia Bridi na Groenlândia

Com depoimentos de moradores de vários dos países por onde passaram e pessoas que já sentem os efeitos do aquecimento global em suas rotinas, Sônia Bridi mostra a urgência da questão do aquecimento global e as soluções que precisam ser pensadas. Ou melhor, postas em prática. Um dos depoimentos que mais chamou a atenção foi de um morador do Butão, país pequenino entre a China e a Índia que tem como prioridade a felicidade de seus habitantes.

"Natureza e felicidade andam juntas [...] Antes cortávamos árvores (principalmente para exportar para a Índia, com sua incrível demanda), mas agora não cortamos mais. Entendemos que sem floresta não tem água e sem água não tem vida." (Habitante local)

Muito bem colocado. Quero passar umas férias no Butão, gostei da filosofia do FIB no lugar do PIB. Felicidade Interna Bruta em primeiro lugar. 

Para enriquecer a leitura e entender melhor todos os aspectos do aquecimento global, é bem legal ver a série “Terra, que tempo é esse”. O problema é que os vídeos não existem no site do Fantástico. Procurando na internet, encontrei alguns, vou deixar os links aqui embaixo. Outra opção é comprar o livro que vem com as matérias num CD. Maaaas, como estamos falando de sustentabilidade, que tal uma leitura sustentável? Antes de comprar na livraria, vale uma passada nos sebos da sua cidade para ver se encontra o livro. Pegar na biblioteca pública ou emprestado de algum amigo também é uma boa. Você adquire conhecimento e ainda pratica o consumo consciente! ;)

Série completa (mas nem todos os vídeos funcionam). 

2 comentários:

  1. Anônimo6/30/2013

    Oi Lê!
    Gostei muito da postagem, fiquei com bastante vontade de ler o livro - uma boa pedida para as férias de julho. Parabéns pelo trabalho que você está realizando.

    Abraço,

    Julia

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    Respostas
    1. Oi Ju!
      É mesmo uma boa leitura para as férias, o livro é muito bom e rápido de ler.
      Obrigada por comentar!
      Abraços.

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